aprender a ser mãe de adolescente

Aprender a ser mãe de adolescente… era o que faltava!

by Xila Damian

Tudo mudava, menos eu

Ser mãe de adolescente é, antes de tudo, exercício de humildade. Digo isso porque descobri que ser mãe é aprender continuamente.  Diferente do que pensava, o cargo “mãe” não pressupõe absoluto conhecimento – e perfeição – e ao tornar-me mãe de adolescente, esta constatação ficou ainda mais clara: precisava continuar aprendendo – e mudar – junto com filho, condição sine qua non … a ambos.

Como anunciavam, filho mudou muito na adolescência. Por fora… e por dentro.  E com as mudanças visíveis e invisíveis, a relação se tornou bem conflituosa.  Enquanto lutava para manter a criança em franco desaparecimento, filho lutava para se firmar como novo ser em desenvolvimento.

De um lado, a mãe tentando assegurar o controle sobre filho; do outro, filho tentando se assegurar por si mesmo. Tudo era mudança e a fase se tornou insuportável a toda família.  Minha arrogante ideia – e atitude – de enxergar-me completa – portanto, não passível a mudanças – nos rendeu muitos conflitos.  Alguns necessários mas todos irremediavelmente catastróficos.

Irredutível a qualquer mudança pessoal de mãe-sabe-tudo, vivi período de cegueira como mãe de adolescente.  Ainda não sabia que a fase me exigiria mais do que dar respostas: me forçaria a aprender que nunca estaria totalmente pronta e que para conviver – e me manter – junto de filho então adolescente em franca mudança, também eu precisaria mudar.

Mãe de pedestal

Os constantes conflitos vividos com filho adolescente me levavam a pensar:

–  Onde foi parar aquele filho que conhecia?

Como que de repente o perdido, tomava atitudes autoritárias na ânsia de “recuperá-lo” e reafirmar meu conhecimento de tudo.  Diferente do esperado, o resultado eram discussões, conflitos e progressivo distanciamento.

Mantive-me em uma espécie de pedestal que me tornava mãe de ordens e opiniões sempre muito incisivas.  Chegou a adolescência e, junto, uma espécie de oponente disposto a testar seu próprio poder de voz e pensamento.  Neste jogo de poder e desenvolvimento, ambos perdíamos a chance de crescer em nossos papéis.

De um lado,  sufocava o emergente adulto em franca expansão enquanto do outro, filho adicionava peso a um convívio naturalmente desafiador a qualquer família com adolescente. O descompasso saltava aos olhos até dos mais distraídos mas não aos meu.

Tornar-me mãe de adolescente confirmava as previsões de uma fase desesperadora; foi de fato.  Menos pela fase em si mas por minha relutância em crer-me passível – e necessitada – de mudanças para seguir nesta jornada de formação que nunca acaba.  Muda… a cada fase da vida… para todos.

Mãe da vida real

Inúmeras vezes interrompi filho adolescente em seu exercício de amadurecimento.  Seja atropelando suas opiniões, cortando suas frases, respondendo por ele ou o privando de escutar a própria voz.  Constantemente o abafava e mesmo involuntária e inconscientemente rompia seu esforço de se colocar de forma adulta.

Um dia, prestes a entrar em seu quarto, o escutei pela porta reclamar ao amigo:

– Cara, minha mãe é um saco!  – e depois dos risinhos de confidentes que entendem o que dizem, continuou

– Ela não me deixa ser quem eu sou. Sempre me interrompe, manda, reclama, critica… fala comigo como se eu fosse um bebê que só deve seguir o que ela diz e ordena!  Pô… que saco!

Escuta-lo escondido me fez enxergar a mim mesma.  Em pouco tempo, senti a cutucada como um despertar de um torpor inconsciente.  De repente, me vi tolhendo filho adolescente em seu exercício – esperado – de adulto.  Enxergar minha atuação por seu ângulo evidenciou falhas até então ignoradas que, paulatinamente, cresciam e formavam barreiras entre nós.

Mudar foi uma necessidade pra mim. Acolher filho diferente de antes também.  Escutar e aceitar suas opiniões – por mais imaturas que parecessem ou fossem de fato –  um desafio. Enxerga-lo como é hoje, ou seja, adolescente em pleno teste e “arremate” de si mesmo, uma prova de autocrítica e humildade para assumir papel de coadjuvante, não mais de protagonista.

Mãe de adolescente em nova fase

O inusitado exercício provou ser esta a fonte da maior parte de meus conflitos com filho adolescente bem como dos proféticos alertas sobre a “difícil fase”.   Mostrou-me quão repetidos e desnecessários erros cometia por não me dignar a mudar como mãe de então adolescente.

Manter-me igual na fase em que não só filho muda, mas tudo, me estagnava em um tempo desconexo com a realidade e novas circunstâncias da vida de ambos.

Ajustar-me à nova fase me forçou a desenvolver novas competências como mãe.  A começar por paulatinamente compartilhar o leme de sua vida encorajando-o a, pouco a pouco, manejá-lo por completo.  Como? Permitindo-o:

– ser ele mesmo, independente de mim;

– dar opinião própria, independente de qual seja;

– ter espaço pra falar, independente do tempo necessário;

– se expor, independente de sua imaturidade;

– fazer suas escolhas – salvaguardando sua segurança, claro.

Filho adolescente anseia audiência e ser dono de voz própria; deseja ouvintes interessados e atentos a suas histórias e experiências. Adolescente,  como qualquer um, aspira ser considerado e respeitado por si mesmo, independente dos pais.  Expectativas óbvias… que eu não via.

Aproveite nossa página do Facebook e compartilhe mais experiências: Clique aqui!

Mãe de adolescente em nova versão

Aprender a ser mãe de adolescente ainda é um paradigma a ser quebrado. A presunção de completude persiste na sociedade e, desapercebidamente, nos mantem à margem de um processo de amadurecimento e aperfeiçoamento que não é só do jovem mas de toda a família.

Enquanto mãe de adolescente sabedora de tudo, não vivia junto de filho tampouco crescia como ser humano. Enquanto mãe cega ao filho então adolescente, combatia seu crescimento e abafava sua identidade em construção. Inconsciente do perfil de mãe imutável, desperdiçava a chance de continuar aprendendo e me aperfeiçoar junto com filho.

Mas a história mudou e, com ela, também eu.  Eis a jornada da vida: o que me faltava era enxergar que aprender e mudar é para sempre.  Especialmente quando nos tornamos mãe de adolescente.

Leituras sugeridas: O que mães como a personagem Heleninha da novela ensinam, Mudanças na adolescência, Dialogar com filho adolescente

 

1 Comment

Leave a Reply