Saídas à noite de filho adolescente: por uma experiência diferente

by Xila Damian

Chegou a hora

Pais normalmente se afligem quando chega a hora de lidar com as saídas à noite de filho adolescente. Ainda que previsível, confiar ao meu adolescente a prática da vida adulta foi grande desafio para mim.

Insegura da dose de independência a lhe conceder, me ancorei em regras acreditando serem a única fonte de educação necessária para a dinâmica recém iniciada… para todos.

Por uma dinâmica diferente entre pais e filhos

Medo dos primeiros passos de filho adolescente potencializaram nossos já conhecidos embates e acabaram por minar ainda mais nossa relação.  Mãe e filho adolescente estávamos à beira do descompasso.

Entre a excessiva proteção e a pouca confiança em sua capacidade de lidar com a novidade, a situação ficou insustentável.  Quis mudar e, daquela vez, a inspiração veio de um pai.

Seu exemplo prático – e diferente do habitual – mostrou que as saídas à noite de filho adolescente podem ser vividas de outra forma: como oportunidade de conexão entre pais e filhos adolescentes.

A insegurança de pais de adolescente

A iniciação de filho adolescente à vida adulta me cobrou mudanças profundas. Sobreviver às recorrentes intempéries provocadas pelo filho em franco desejo – e exercício – de conquistar independência foi só um das muitas situações que me levaram a isso.

Consciente da importância de formar adulto autônomo, me ocupei de descobrir forma menos tóxica de promover uma transição segura para ele e confortável para mim. Sabia do meu dever de educa-lo com regras e alertas de segurança mas desejava cumpri-lo de modo a contribuir com a formação de um jovem mais do que obediente: um indivíduo consciente.

Portanto, vetar as saídas à noite de filho adolescente não foi opção.  Irmã caçula de seis e tia de muitos antes de me tornar mãe, reconhecia o valor daquela experiência. Nem por isso, fui poupada de sofrer na minha vez de lhe confiar as rédeas para a prática das saídas à noite.

O exercício de pais de adolescente muda

Por uma lente maternal essencialmente protetora, senti a mesma tribulação relatada por muitos pais de adolescente em fase de lidar com saídas à noite de filho adolescente.  A violência exponencialmente crescente aumentava minha natural insegurança em ceder o comando a filho.

Assim vivi o início da saídas à noite de filho adolescente: lutando contra dúvidas angustiantes. A situação era previsível, os receios plausíveis e os sinais de mudança evidentes. A fase de controle passara; chegada a hora de promover em filho autonomia consciente e segura… dos bastidores.

Saídas à noite de uma lente diferente

Diariamente filho reivindicava as rédeas de sua vida. As saídas à noite logo se tornaram sinal mais evidente de seu desejo de abrir as asas e ganhar o mundo. De repente, puxar e dar linha à pipa ficou mais difícil, sério e preocupante e manter seu controle, mais complicado.

Foi quando perdida entre medos e cobranças, presenciei situação que me despertou para novas possibilidades de viver a experiência de forma diferente da habitual.

Naquela madrugada, o adolescente chegou da balada e, para minha surpresa, escutei os passos do pai no corredor para recebe-lo. Ao primeiro ruído na fechadura,  mais aliviado do que irritado com a hora, o pai acolhia o filho que voltava de mais uma saída à noite.

Então desperta e atraída pela conversa baixa vinda da sala, me juntei aos dois como ouvinte e observadora.  O pai claramente habituado àquela prática me surpreendeu e intrigou por sua inusitada atitude. A princípio, confesso, o julguei um tanto “protetor demais para um jovem já grandinho”, pensei.  Depois, porém, enxerguei além: era momento precioso de intimidade e cumplicidade entre pai e filho que crescem juntos como parceiros de vida.

Saídas à noite de filho adolescente vividas de forma diferente

Tendia a crer e a me ocupar de firmar e cobrar regras como meio único de formar adulto responsável.  Mas, ao assumir a premissa de que saídas à noite de filho adolescente são fundamentais e não mais controláveis como antes, ajustei meu papel de mãe para encarar e vencer o desafio dando linha à pipa com segurança; não mais para controla-la mas para sustenta-la em seu voo.

As saídas à noite de filho adolescente definitivamente mudaram minhas madrugadas.  A preocupação com sua segurança persiste mas já não tento controlar o incontrolável. O hábito de receber filho à volta das saídas à noite foi determinante para a situação mudar: passamos a dividir histórias, a trocar percepções, a confiar um ao outro experiências vividas; passamos a nos conhecer mais e melhor. A angústia, então substituída por cumplicidade entre mãe e filho, tornou a experiência incrivelmente enriquecedora… para os dois.

Por uma relação diferente entre pais e filhos

Decerto que os combinados de segurança firmados de comum acordo viabilizam uma experiência diferente para mãe e filho adolescente. Ainda que falíveis, as regras pactuadas são mais respeitadas do que quebradas e o resultado, enfim, é favorável.

– Mãe, tô iiiindo!

– Ok! – respondo indo até ele –  O celular tá carregado? Já sabe, né: envie mensagem quando chegar lá e quando estiver voltando também, ok? Ah! Lembre-se: nada de beber em copo dos outros! E…

– Tá, mãããe! Não vai repetir tudo de novo, né?! Já falamos sobre isso, né? Confie em mim! Que saco! – e, apressado, me beijou tendo ao fundo um coro em uníssono que também se despedia entre risinhos:

– Tchaaau, tiaaaa!

– Vão com Deus! Juííízo! Cuidado! – e a porta finalmente bateu.

Virada a chave, então pensei intrigada:

– Quem é aquele de brinco mesmo, hein?! Ah, depois ele me conta. Teremos tempo pra isso de madrugada…

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