Frases adolescentes
Fujo de rótulos: pelo menos tento. Sou gato escaldado: sei que rotular filho adolescente deturpa minha visão e, por consequência, me induz a erros evitáveis e às vezes até injustos. Assim, me esforço em evitar a repetição de frases feitas e clichês sobre adolescência e afins.
Isso, contudo, não descarta a existência de padrões de comportamento tipicamente adolescentes. Dentre vários, destaco uma que definitivamente me tirou do sério por muito tempo: as conhecidas frases de filho adolescente. Não se trata de recaída de mãe rotuladora mas reconhecimento de um fato inerente à fase.
Assim são as peculiares frases de filho adolescente cujo objetivo único – e infelizmente eficaz! – desvia a atenção dos pais para o que não interessa. Quando atentei para a estratégia desta irritante modo de agir adolescente, passei a lidar com elas de forma diferente em prol de resultados – igualmente estratégicos e eficazes – de educar.
A estratégia das frases de filho adolescente
Rotular filho adolescente como igual a tantos outros me poupava do trabalho de efetivamente conhece-lo de perto observando suas atitudes e agindo em prol de um relacionamento com ele. Não à toa, caía em ciladas invariavelmente desgastantes como bate bocas e discussões que nem de longe o educavam. Pelo contrário: tornavam-se embates cada vez mais agressivos e meu adolescente, cada vez mais “rotulável”.
Decerto aí errava grosseiramente porque ao me apoiar em rótulos, era sorrateiramente sugada para o centro de discussões improdutivas e totalmente fora do foco principal. Distraída, não notava: as duras frases de filho adolescente são nada mais que estratégia para fugir do que realmente interessa.
Costumava me magoar ou me rebelar contra as tais frases; sentia-me como que profundamente atingida pelas más circunstâncias até que, de visão limitada, caía na repetição dos mesmos conflitos que surpreendentemente se repetiam.
O combate entre mãe e filho adolescente
Ciclo vicioso de clichês de um lado:
– Impossível lidar com filho adolescente! – gritava ao fim da discussão.
De outro frases de filho adolescente, tais como: “eu te odeio”, “não estou me sentindo bem”, “não é justo” e “você nunca/sempre”, para citar apenas algumas delas.
De tão rotineiras, as frases de filho adolescente começaram a me despertar para certo padrão de comportamento. Como que achando o fio da meada, passei então a observar em vez de retruca-las. Para minha surpresa, as frases malcriadas ganharam outra leitura: em vez de desrespeito, enxerguei autodefesa de filho adolescente contra circunstâncias das quais tentava se livrar.
Desviar o foco de atenção para mim era a estratégia adotada para suavizar seu descontentamento e/ou angústia. Ao desferir golpes contra mim, me desestabilizava e me tornava facilmente vulnerável às suas frustrações. Aliviado do peso de ser contrariado em um mundo pouco antenado com seus desejos, filho saía do tal “combate” crendo-se vitorioso e eu, profundamente frustrada por minha incompetente atuação.
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Estratégia de filho adolescente desvendada
Diariamente discutia com filho pelo uso desenfreado do computador. Aliás vivemos inúmeros conflitos por isso. Lembro de muitos rompantes de fúria em que cheguei a desligar seu computador repentinamente em evidente descontrole emocional e total crise de autoridade:
– Mããe, eu te odeio! – desferiu filho.
– Me odeeeia?? Faço tudo por você e é assim que me retribui? – retrucava escandalizada com o peso da frase.
– Faz nada! Você nunca deixa fazer o que gosto; tudo te irrita! Não é justo! Tudo tem que ser do seu jeito e na sua hora! Que saco!
Depois do extravase verborrágico assustadoramente voraz, o bate boca seguia sob ritmo progressivamente agressivo. Atordoada em meio às frases de filho adolescente, invariavelmente perdia o foco original da discussão. Distraída e, na maioria das vezes, sentindo-me ferida, caía no campo minado dos conflitos disfarçados de “falta de respeito aos pais”.
De novo, a estratégia adolescente dava certo desviando a atenção da raiz do problema e dando a filho a prerrogativa de julgar e lamuriar contra o mundo hostil – personalizado em mim! – que o impedia de viver como queria… e merecia. Uma vez descoberta a ponta do iceberg, a estratégia começou a perder força e aquela história de conflitos, a finalmente mudar.
Estratégia para crescer
Finalmente entendi: frases de filho adolescente são verdadeiras brechas a ciladas e antecipam péssimos desfechos quando ingenuamente absorvidos por pais. Quando contrariado, o adolescente ataca sem perdão até conseguir o que realmente quer: desviar o foco sobre o que realmente é problema.
Ao me desestruturar com suas frases adolescentes, lhe dava espaço para reclamar de mim – e do mundo – por um trabalho indesejado ou uma responsabilidade imposta. O ataque preciso das frases de filho adolescente me fazia morder a isca facilmente o que estrategicamente o beneficiava.
De tanto viver – e também presenciar – a mesma situação, descobri se tratar de uma dinâmica que também me exigia estratégia se quisesse mudar aquela situação. Assim experimentando novas atitudes, me despi da vitimização e arregacei as mangas para tentar algo novo.
Foco no que importa
Depois de vários dias seguidos enfiado na casa do amigo, determinei:
– Filho, hoje você fica em casa. Se o Dado quiser, será bem vindo de vir pra cá.
— Mas lá a gente pode usar o equipamento do irmão dele, é muito maneiro! – filho argumentou.
– Hoje você fica aqui; receio abusar da hospitalidade da família. Portanto, dá um tempo… o convide a fazer outra coisa, ok? – respondi mais assertiva.
– Mãe, você é um saco! Nunca deixa eu fazer o que quero. Eu te odeio! – reagiu.
Daquela vez, antevendo o embate e consciente da necessária mudança de atitude, não rebati suas frases. Em vez disso, me fixei no fato – de não o querer mais na casa do Dado – em vez de na forma – nas frases de filho adolescente:
– Sinto muito se você está com raiva de mim por isso mas, hoje… é aqui. – encerrei o assunto.
A ladainha continuou – como sempre – mas agora sem eco. Vencida a tentação de revidar seu habitual ataque, me blindei contra o bate boca. De fato sob enorme esforço, mas clara e objetivamente, lhe dei a mensagem que importava:
“Não vou mais me desestruturar e perder o foco da questão discutida. Hora de encarar e aprender a lidar com as contrariedades da vida que, aliás, só estão começando.” – e tenho dito.
A estratégia é para pais e filho adolescente
Aprendi que desperdiçava energia em conflitos inúteis com filho adolescente. Primeiro, porque entrava na pilha das frases de filho adolescente; depois, porque lhes dava importância indevida que, no fim das contas, lhe servia de estratégia para desviar do que realmente importa.
Tomar ciência de mais esta cilada vivida como mãe de adolescente me despertou para reconhecer o campo minado das frases de filho adolescente e evitá-lo com redobrada atenção feito gato escaldado… que foge dos perigos que já conhece.
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