responsabilidade

Responsabilidade e adolescente: a conta fecha quando pais mudam o foco

by Xila Damian

A culpa é do “outro”

Impressionante como filho adolescente se esquiva da responsabilidade por erros cometidos. Baseada no que vivo, o via culpar os “outros” por seus furos e não assumir as consequências de seus atos.

– Não fui eu, mãe! Como ia saber que precisava levar RG pra buscar o comprovante do exército?

Da surpresa passei à irritação: como é difícil, quase impossível, um adolescente assumir a própria culpa por seus erros. A porta de casa deixada aberta, o celular esquecido na quadra, o cachorro dormindo na cama, tudo e nada é culpa sua; sempre do “outro”, seja ele quem for.

A busca por culpados

Em meio a várias situações similares (e que você certamente vive com filho adolescente também), perdia o foco nas discussões. Sempre ocupada em fazer filho admitir sua culpa pelo problema causado por sua displicência, caía em bate bocas sem fim em busca de um vilão. No fim, nada mudava e, de novo, filho se eximia da responsabilidade por seus atos.

Depois de muito viver essa dinâmica desgastante e pouco educativa, aprendi: em vez de faze-lo admitir culpa, precisava leva-lo à mudança de comportamento. Afinal, se errar é humano, aprender com o erro é educativo; principalmente quando a culpa é sim dele e a responsabilidade, também!

– Será possível, filho? Te avisei que trouxesse o RG, nada mais! Agora vamos (nós??) perder o horário! Depois de meses de espera, você vai perder o prazo logo com o Exército! Tem noção do problema que arranjou por sua displicência? – esbravejei possessa.

– A culpa não é minha, saco! Como podia lembrar com você me apressando pra não perder a hora? – retrucou sem noção.

– Tá brincando? EU sou a culpada de você esquecer o documento? Depois de fazer TUDO, ainda tinha que te relembrar de um detalhe básico? – respondi exasperada.

Pensa que assumiu a culpa?  Nessa busca por culpados, a única ali disponível era eu.

Responsabilidade dá trabalho

Além de dono de uma memória extremamente seletiva, filho adolescente nunca se nomeava culpado de qualquer problema. Pelo contrário: o “outro” (seja alguém ou circunstância) sempre conspirava. A porta ficou aberta “porque pensou que o irmão fecharia”; o celular foi esquecido porque “o amigo ficou de guardar pra ele”, o cãozinho dormiu na cama porque… “ele só sabe dormir assim mãe, saco!” E quando sem argumentos: “esqueci o RG por sua causa, mãe!”.

Sentir-se culpado é, de fato, desagradável. Por isso, até entendo sua primeira reação de negar a própria responsabilidade por um erro cometido. Porém, como mãe, entendo também ser meu dever ensiná-lo a arcar com os próprios erros e, principalmente, aprender com eles.

Admitir a culpa é ser forçado a mudar e isso, definitivamente, dá trabalho. Sabemos quão “econômicos” adolescentes podem ser quando o assunto é se esforçar.  Por isso, assumir a culpa lhe exigiria mudar de comportamento, trabalho demasiadamente grande pra ele.

O monólogo eficaz

Diante dessa (agora clara) característica adolescente, entendi: focava no lugar errado. Quando buscava sua admissão de culpa, me desviava da missão de faze-lo mudar de comportamento. Enquanto o acusava, filho ficava mais defensivo e cego de sua má atitude. Quanto mais me encarava, mais contra atacava e se eximia da responsabilidade por seus atos.

Por isso, mudei a abordagem: passei a dar minha leitura sobre a situação, o porquê de considera-las problema e, finalmente, como me sentia a respeito. Não esquecendo, claro, de ser breve e objetiva.

– Te apressei porque não estava pronto na hora certa; saímos, então, afobados. Se tivesse se preparado adequadamente, com RG em mãos, não teríamos voltado todo o caminho, perdido tempo precioso e arriscado o agendamento há tempo marcado. Me sinto desconsiderada de todo esforço e ainda injustamente responsável por fazer tudo sozinha. Já é um rapaz: precisa organizar suas coisas, assumir suas responsabilidades e consequências – concluí, dessa vez com muito esforço, calmamente.

– A tá, mãe! Não adianta: você me acha um pateta mesmo! Você chega atrasada, não me lembra do documento e ainda me culpa! Pois te digo de novo: não foi culpa minha! – insistiu irritantemente.

A busca por culpados continua mas, dessa vez, sem mim.  Além de mudar o discurso e me limitar a faze-lo e sair de cena, mudar aquela dinâmica deixando-o travar a discussão com ele mesmo. Então sem combatente, filho perdia o vilão a quem culpar; em seus monólogos, a saída era assumir a responsabilidade pelo erro e por suas consequências.

Conta fechada

Por mais difícil que seja, tenho cada vez mais delegado ao filho a responsabilidade por seus erros. Não tento mais convencê-lo da culpa; ao invés disso, relato o fato com minha lente, mostro o problema gerado na expectativa de que aprenda a lição para não repeti-lo e o deixo refletir sobre as consequências. Errar é humano mas adolescentes odeiam errar.

Como pensava, filho perdeu aquele agendamento e fiquei aterrorizada. Porém, adolescentes são seres especiais e, quando chamados à realidade (normalmente urgente), acordam para a vida. Foi assim que filho não só remarcou seu comparecimento no Exército como, dessa vez, foi sozinho… e “preparado” por conta própria.

Ao retornar, com comprovante em mãos, suspirou aliviado:

– Viu, mãe? Não foi culpa minha! O problema é que você é muito estressada e tudo acaba dando errado.

Também suspirei (diferente dele, pra relevar o comentário) me concentrando intimamente que já não busco culpados mas mudanças de comportamento, inclusive meus. Adolescente e responsabilidade é conta que fecha sim, desde que o foco esteja sobre o que realmente interessa.

Aproveite nossa página do Facebook e compartilhe mais experiências: Clique aqui!

Leituras sugeridas: Incentivando a autonomia de filho adolescente, Subestimar filho adolescente é típico de pais Marlin, Falta de consideração de filho adolescente, Princípios da boa comunicação com filho adolescente,

No Comments

Leave a Reply