Um ponto desapercebido
Mãe de menino escuta comentários curiosos sobre ciúmes de filho adolescente: “ele sente ciúme de você?”, “te “deixa” namorar?, “ih, deve ser uma ciumeira doida!”. Confesso que ficava até desconcertada: não notava aquele ciúmes “natural e esperado” que tanto falavam.
Talvez por não ter dado motivo, talvez porque o filho fosse desencanado… o fato é que, ainda que desimpedida, não havia sofrido os ciúmes de filho adolescente. Sabendo que mãe tem sua hora prá passar por tudo, a minha chegou.
Hoje respondo os comentários com conhecimento de causa. Por zelo ou por medo, a experiência de viver os ciúmes de filho adolescente me fez esclarecer um ponto importante até então desapercebido: a vida segue para todos, inclusive prá mãe.
Hora de lidar com ciúmes de filho adolescente
Mãe de adolescentes homens, me habituei a escutar histórias de filhos ciumentos que cerceavam suas mães de atividades, comportamentos e atitudes. Frequentemente abordada sobre como é ser mãe de homens, respondia as perguntas com humor e até certo orgulho: “nunca senti isso deles”.
Certa vez, filho contava seu papo com um amigo e entregou: “ele me perguntou se eu tinha ciúmes de você, mãe”. Intrigada com a pergunta (e o papo) entendi que as conversas entre adolescentes podem ser mais profundas que imaginava. Curiosa, quis saber: “você sente?” ao que prontamente respondeu: “às vezes.”
Surpresa com a resposta simples e direta, sorri sem graça e… guardei; não sabia onde ia dar o rumo daquela conversa. Em outra ocasião, em uma loja, me repreendeu quando, ao pedir ajuda a um vendedor, recebi atenção e elogio deste.
Visivelmente irritado, fez cara de bravo e me apressou para finalizar a compra:
– Saco, mãe! Que demora! Dá prá acabar a conversa e irmos embora?
Sim, era hora de encarar mais essa experiência: a de lidar com ciúmes de filho adolescente. Não sabia se por excesso de zelo ou de medo, mas dividir minha atenção com outro homem o incomodou. Era hora de retomar aquela conversa de amigos para esclarecer e, se necessário, reforçar uma das poucas verdades absolutas que tenho.
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Filho é prioridade, não proprietário
Dialogar é sempre o primeiro passo para lidar com filho adolescente. Tão importante quanto o diálogo, é a escolha certa das palavras, do momento, do tom. Por conta disso, esperei momento oportuno para puxar o assunto. Paramos em nossa cafeteria preferida para um lanche. Momentos como esse são ricos para uma interação descontraída, sem lições de moral; a conversa flui.
Entre um gole e outro no delicioso café, falei da minha surpresa por sua resposta ao amigo e, agora, daquela demonstração de impaciência sobre o vendedor. Perguntei o porquê daquela reação:
– Não sei explicar… vejo o cara se mostrando prá você sem nem saber quem é. Pô, folgado! Vai que é um doido, um idiota sei lá… tenho medo de você cair na conversa dele…
– Entendi, você se preocupa comigo, né? Fique tranquilo, não sou uma bobinha… Agora: só vou passar a conhecer se conversar com ele, né? E se ele for bacana?
– Eca, mãe! Não quero nem saber… não fala comigo sobre isso – reagiu.
Mãe de menino já conhece os prováveis motivos de ciúmes de filho adolescente: se sente “responsável” pela mãe (ainda que não faça nada nesse sentido); se vê ameaçado de perder “seu lugar” na vida da mãe (ainda que reclame quando ela entra na dele) e, não menos importante: odeia imaginar a mãe paquerando, que dirá, namorando, sendo cortejada.
Diante de tantos motivos, só me restou discutir a situação e reforçar: a vida segue para todos, inclusive prá mães desimpedidas. Segura da minha opinião, o fiz encarar a realidade sem melindres ou brechas para demonstrações machistas:
– Sempre será minha prioridade e meu filho amado; nunca meu proprietário com direito de anular minha vida amorosa, entendeu?
A vida segue para todos
Por um tempo, pensei que não viveria os ciúmes de filho adolescente. De diferentes formas e intensidade, acontece. Mais uma oportunidade de discutir pontos importantes da vida que, às vezes, deixamos passar desapercebidos. Nesse caso, foi o de estabelecer limites na relação mãe e filho; meu amor incondicional não lhe daria direito de mandar na minha vida.
Calejada, já não me surpreendo com suas caras e bocas em situações similares; só me preparo para uma eventual sessão de ciúmes. Segura e com o mesmo humor de antes, agora respondo os comentários curiosos com conhecimento de causa: “a vida segue para todos e meu filho, hoje, entende.”
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