A pergunta que não quer calar
Em fase de conclusão do ensino médio, temo o futuro de filho adolescente. A pressão de escolher uma faculdade ainda que não esteja certo do que “gostaria de ser” (loucura pensar nessa frase!); de passar no vestibular, de conseguir uma vaga de preferência em universidade pública, tudo é estressante prá ele… e para os pais.
Perdi a conta das vezes que “chamei filho para conversar” sobre vestibular. Não sabia como fazer, mas precisa fazer algo para minimizar a ansiedade. Mas nem as boas intenções e nem a maturidade de quem um dia viveu essa fase facilitava o diálogo. A pergunta continuava sem resposta: qual o futuro do filho adolescente quando concluído o ensino médio?
Vestibular: O primeiro teste é escolher
Cresci no meio de irmãos inteligentes e dedicados que se destacaram no vestibular. Decididos (ou pelo menos parecendo seguros de suas escolhas), seguiram na vida acadêmica até se formarem renomados profissionais na carreira escolhida, diga-se de passagem, de cara.
Cinco anos depois, foi minha vez de escolher uma profissão para seguir. Lembro a angústia que senti de deixar a escola, minha segunda casa, e os amigos conquistados durante anos de convívio. Ao contrário do que parecia ter acontecido com irmãos, pensar em futuro era sofrer a transição para a vida adulta. Adiando o assunto, fugia o quanto podia da decisão.
Agora, mãe de adolescente, é a vez do meu filho. O ano mal começou e já falava com ele sobre cursos, faculdades, profissões e carreiras. Não demorou e as conversas sobre vestibular se tornaram momentos de discussão e estresse. A expectativa de uma resposta (segura) acabou com a nossa tranquilidade: meu filho não sabia o que fazer.
As respostas, inicialmente tímidas, se tornaram uma explosão de angústia:
– Não sei, mãe! Não sei o que quero ser pro resto da vida! Que saco!
Escutá-lo aflito e inseguro me lembrou que, por experiência própria, futuro de filho adolescente não precisa ser definitivo nessa fase. Por outro lado, escolher um caminho é inevitável mesmo sendo tão imaturo para tanto. Portanto, vencer o primeiro teste da escolha já seria um grande passo para a vida adulta.
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Atitude diante da vida importa mais
Perdida, errei em minha escolha duas vezes para, finalmente, acertar na terceira. Não que me sentisse segura sobre meu futuro mas gostava do que fazia. Descobri, então, ser este o segundo passo do teste: se identificar com o curso escolhido. Contrariando o perfil de filhos decididos e destacados, encontrei meu caminho mais tarde que o esperado e segui uma carreira bem diferente das expectativas familiares.
Errei nas escolhas inicialmente mas não fugi da responsabilidade de decidir. Meu caminho sofreu mudanças e o percurso, por vezes, desvios. Ainda que insegura sobre meu futuro, aprendi cedo que o momento de tomar as rédeas da minha vida chegaria e me cobraria decisões, mesmo sem garantias de sucesso.
O exercício da escolha é difícil até para adultos. Solidarizar-se com filho adolescente neste momento crítico de vestibular é também viver a pressão; com ele, não por ele. Valer de minha experiência angustiante e fora dos padrões familiares me fez enxergar a fase com menos rigidez, mais flexibilidade.
Não alimento expectativas sobre sua escolha no vestibular; sei que há chance de também errar. Espero encontrar nele, contudo, atitude diante da própria vida. Espero dele:
1- uma escolha própria e fundamentada com um mínimo de informação sobre o que escolheu;
2- uma escolha condizente com suas aptidões e interesses;
3- a segurança de que reconhece meu apoio incondicional, independente de sua escolha;
4- senso de responsabilidade para traçar seu futuro consciente da primeira decisão que a vida adulta lhe impõe.
Nada disso nos dá garantias sobre seu futuro mas, prá mim, são fortes sinais do adulto que poderá se tornar. Gosto desse adulto autônomo e consciente e torço prá que ele também goste.
A estrada desvenda o futuro
Depositamos grandes expectativas sobre o futuro de filho adolescente na fase de vestibular. Esperamos que o filho faça a escolha “certa” de cara. Tendo vivido experiência diferente nessa fase, minha expectativa é outra: reconhecer nele a atitude necessária para tomar as rédeas de sua própria vida a começar pela escolha de seu caminho.
Por mais contrariada que fique com minha impotência, preciso lhe delegar a responsabilidade. Ser coadjuvante neste processo é o meu teste. A mim resta imprimir a pressão e o apoio necessários para ele escolher com atitude. A experiência é válida para todos. Errando e acertando, a estrada vai se abrindo e o futuro, se desvendando. Para todos.
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