rotular

Sem rótulos, por favor!

by Xila Damian

Facilidade em rotular. Não importa o quão tímido, quieto ou envergonhado o seu adolescente seja, com você ele abre o verbo. Ele fala, esbraveja, discute, responde, briga, argumenta, defende… Fala mesmo (cá entre nós, por vezes até demais)!  Prá você, tem opinião formada, solução pronta, decisão tomada… Aff!

Tamanha atitude de um ser “em construção” nos encanta pela ingenuidade  de crer que a vida pode ser resumida em categorias, em tópicos… em rótulos.  Se comento algo, “que fofoqueira”; se reclamo de algo, “que ranzinza”; se peço algo, “que pidona”; se mando algo, “que mandona”; se me irrito com algo, “que exagerada”. Se, se… há sempre um rótulo na cartola que, sob seu olhar exageradamente crítico (sobre a mãe!). É selado com a sua frase favorita “que saco!”.

Em minha experiência com dois opostos, um adolescente reservado e outro falastrão, identifico a exagerada facilidade de me rotular.  Em exercício (e teste, confesso), decidi então não comentar casos por um dia, tarefa difícil prá mim, mas como boa mãe-cientista, fiz o sacrifício.

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Como de costume, ao chegar em casa, meu falante comentou seu dia na escola: o jogo ganho, o mico do amigo, o lanche curto, o professor engraçado, a aula chata… Escutei cada história com atenção e interesse expressos no rosto mas sem os habituais comentários e opiniões que normalmente serviam de estopim para detonar réplicas enviesadas.

Não demorou muito para que o “vazio” do diálogo o incomodasse. Intrigado, insistiu na narrativa e continuou falando, falando, falando até que ponderou: “Mãe, você não vai falar nada??!!  Que saco!”

Foi minha redenção (e alívio, não aguentava mais me controlar!). Intimamente satisfeita com o resultado da experiência, abri o jogo e entreguei a estratégia do dia mostrando que “a troca de opiniões é muito mais interessante do que o simples assentir; Que ter opinião (ainda que diferente da dele) desenvolve pessoas, abre a cabeça para novas possibilidades e que, por isso, a diversidade nos engrandece como seres humanos.”. Estava inspirada…

Diante de tamanha profundidade (“será que exagerei?” pensei), ele suspirou revirando os olhos e, usando sua peculiar objetividade respondeu: “que filósofa!

É, o mundo insiste em nos rotular… e começa desde cedo.

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